CAPITULO 7 - A RELIGIÃO CIVIL: MITOS E
REPRESENTAÇÕES DA NAÇÃO LAICA
Até aqui temos seguido as distintas
derivações promovidas pelos textos de leitura utilizados na escola uruguaia até
os anos 30 de nossa época (pode-se inclusive pensar numa maior temporalidade:
os textos de Abadie Soriano e Zarrilli, continuam sendo utilizados em alguns
casos até os nossos dias).[1] Vimos como a religião civil, ao mesmo tempo que pretende mostrar-se como
porta-voz da totalidade - porta-voz para quem as particularidades culturais e
religiosas devem ser deixadas no lugar das fidelidades secundárias - inaugura
também um duplo jogo onde também ficam visíveis tanto as assimetrias quanto as
expulsões. Os “efeitos de realidade”
(Bourdieu,
1993,1998) da religião civil, cujos mitos e representações emblemáticas afirmam
a produção deste indivíduo, o sujeito-cidadão, não podem, contudo, obliterar
totalmente a diversidade cultural manifesta. Assim, sob a construção da representação
emblemática de José Pedro Varela (e inclusive sob a convocatória da própria
escola como emblema), a nominação das diversidades culturais é realizada
unicamente para aglutiná-las numa igualdade homogênea, obrigando, porém,
através do mesmo exercício, a construir o Outro e o outro. Este Outro - simples espelho do mesmo que
nunca poderá alcançar - é recebido, quando reconhecido como Outro, a partir de
assimetrias que, em todos os casos (em maior ou menor grau), colocam-no na
escala de um “protocidadão”. Quanto à religião católica
(ou outras
expressões denominacionais), passam a
constituir “o outro”. No quadro da
nação laica, “o outro” pode estar presente neste caos prévio ao processo
fundacional (tal como nos é apresentado o período anterior à reforma
vareliana), ou nas expressões que competem diretamente com seus próprios almejos. Particularmente o catolicismo teve de fazer
frente aos maiores embates da prática substitutória da religião civil.
Fidelidade secundária, fidelidade “privada” na melhor das visões, crença a
erradicar em troca de se deixar atrair pela “luz de las escuelas laicas” (no
dizer do jornal batllista El Día, de 5 de janeiro de 1914)[2] ; “o outro” católico conhecerá sua
domesticação, por
meio da sua funcionalização ao “disciplinamento” para colaborar a criar e
produzir cidadãos, ou será expulso desses templos da nação laica conformados
pelas escolas públicas. A
possibilidade, então, da mito-práxis estará
particularmente assentada na exclusão de outros universos míticos que atentam
contra o igualitarismo imperante. Esta “igualdade” ideal, nas palavras de
Dumont (1992:85-86), conhecerá o elogio à educação, à lei, ao progresso, à
liberdade e à democracia. Qualquer épica fundacional da nação ficará
subsumida a estas representações que, sem dúvida, tornar-se-ão representações
emblemáticas, conjugadas em mitos. Os mitos da nação laica, preferem descansar
e conceber a fundação da nação e o seu desenvolvimento através de uma épica
diferente da bélica. Na nação laica, a dimensão épica se objetiva
na democracia, que assume assim o caráter de representação emblemática. Como o manifestara Emma Catalá de Princivalle
no seu Livro quinto para quarta série, comparando o Uruguai com outros países: En la misma Europa, el continente más civilizado, tienes á Rusia y
Turquía, donde el Emperador, señor de vidas y haciendas, gobierna á su antojo,
sin constitución. Esos gobiernos se llaman absolutos, y los pueblos que tienen
semejante forma de gobierno son muy desgraciados, porque allí los nobles tienen
todos los privilegios y el pueblo vive sumido en la ignorancia, la miseria y la
esclavitud. - Por cierto que los rusos y los turcos no han de tener tanto orgullo
en llamarse así como lo tenemos nosotros
en llamarnos uruguayos. Indudablemente, porque el hombre ha nacido para ser libre, para
considerar á los demás hombres como sus iguales; así que el que se ve obligado
á rendir vasallaje á otro hombre debe avergonzarse de su triste condición. (Catalá
de Princivalle, 1908a:268). 7.1 Os percursos da religião civil
Na lição 90, do livro “Un buen amigo.”
(Figueira, 1902), deparamos com a seguinte lição sobre a lei: La Ley . La ley es una regla que impone el Estado á todos sus miembros, bajo
pena de multa, de prisión ó de muerte. Pero ¿qué significa ese Estado que así nos impone su voluntad? El Estado se halla constituído por nosotros mismos. No todos nosotros
votamos las leyes; pero sí las personas á quienes elegimos libremente y en
quienes depositamos nuestra confianza para que hagan leyes y nos gobiernen. Si las leyes son malas; si nos gobiernan mal, es porque no hemos sabido
elegir á nuestros representantes ó bien porque éstos nos han engañado. De aquí la importancia de que el pueblo sea instruído y educado
suficientemente como para poder elegir á las personas que han de gobernarlo con
justicia y honradez. Se ha dicho con razón que los pueblos tienen los gobiernos que se
merecen. (Figuiera, 1902:173.). Eis aqui uma lição onde os percursos da
religião civil se ligam. A ação da educação: “De aquí la importancia
de que el pueblo sea instruído y educado suficientemente como para poder elegir
a las personas que han de gobernarlo con justicia y honradez.”(Id.Ibid.),
garante a liberdade de eleição do cidadão. O Estado e a lei não são para
serem obedecidos cegamente. Se, “la ley es una regla que
impone el Estado á todo sus miembros...” (Id.Ibid.), o próprio Estado emite
leis a partir da votação de “...personas á quienes elegimos libremente y en
quienes depositamos nuestra confianza para que hagan leyes y nos gobiernen.”
(Id.Ibid.). Os cidadãos são assim, enquanto livres, responsáveis pelas suas
decisões: “Se ha dicho con razón que los pueblos tienen los gobiernos que se
merecen.” (Id.Ibid.). O cidadão (eleitor responsável) da nação
laica não diferencia nação ou pátria da sua própria condição de, valha a
redundância, cidadão. Na lição chamada “El país, la nación y la
patria” do livro “Trabajo”, Figueira, dirá: “A las personas qué han nacido en un mismo país se les llama paisanos ó ciudadanos.
Yo soy paisano de usted. Yo soy ciudadano uruguayo.” (Figueira, 1900b:243). Aludindo à nação e à pátria,
deixará-se ler na mesma lição: “La nación es la reunión de los hombres que pertenecen á un mismo país.
Yo pertenezco a la nación uruguaya(...) La patria consiste, principalmente, en
la unión libre de ciudadanos...” (Id.Ibid.). Nação, pátria e país ficarão ligados à imagem
do cidadão. Não há pois país, pátria nem nação que possam ser pensados fora
dessa “...unión libre de ciudadanos...” Na nação laica em construção, o fato de
pertencer e ser cidadão se confundem: “Yo soy paisano de usted. Yo
soy ciudadano uruguayo(...)Yo pertenezco á la nación uruguaya.” (Id.Ibid.). Numa nação que vem se conformando (entre
outros) com o aporte dos imigrantes - basta com lembrar aqui a lição de Vásquez
Acevedo sobre “Los extrangeros” (Vásquez Acevedo, 1888:233-236) o fato de
acrescentar a pertença ao Uruguai à tematização da cidadania não deixa de ser
incluinte desse Outro. Também se naturaliza - e recordemos aqui Barthes e sua insistência na função
naturalizadora do mito (Barthes, 1980) - o país, a pátria e a nação com a união
livre de cidadãos, bem como o fato de pertencer a um país e deter a condição de cidadão. Pertencer à
nação uruguaia e ser cidadão uruguaio admitem um intercâmbio e um deslizamento
semântico. A mito-práxis da nação laica, fica desta forma garantida ao unificar
a livre união dos cidadãos com o país, a pátria e a nação e ao aderir o fato de
pertencer (“ser paisano”) com o fato de ser cidadão. Mas, se a religião
civil exige nesta conformação do
cidadão uma fidelidade primeira, ao assentar-se sobre uma universalidade (o
cidadão) ela fica obrigada ao mito expandir-se fora de fronteiras. O
“cosmopolitismo”[3] será portanto uma característica da religião civil,
ao mesmo tempo que no exercício de
unificação entre nação e “livre união de cidadãos uruguaios”, a construção
identitária uruguaia poderá tomar a representação desta “livre união
igualitária” como representação emblemática. A respeito, citemos mais uma vez a
ilustrativa passagem escrita por Emma Catalá de Princivalle: - Por cierto que los rusos y los turcos no han de tener tanto orgullo
en llamarse así como lo tenemos nosotros en llamarnos uruguayos. Indudablemente, porque el hombre ha nacido para ser libre, para
considerar á los demás hombres como sus iguales; así que el que se ve obligado
á rendir vasallaje á otro hombre debe avergonzarse de su triste condición. (Emma
Catalá de Princivalle, 1908a:268). 7.2 Paz, progresso
e liberdade
A gestação épica da
independência do Uruguai (25 de agosto de 1825) – epopéia bélica em suma - é
observada a partir do olhar sereno e pacífico da nação laica em apaziguamento.
É assim que, no Livro quinto, quarta série de Emma Catalá de Princivalle
(1908a:131-133) lê-se: Calle 25 de
agosto. La Madre - ¿Sabes cómo se llama esta calle, Alcides? Alcides – Calle “25 de
Agosto”. Dime, mamá, ¿por qué le han puesto ese nombre? La Madre – Porque el 25 de Agosto es un gran día para los orientales.
Has de saber que aunque ahora nuestro país es una nación independiente que
tiene sus leyes y se gobierna por sí sola, no siempre ha sido así. Hace como
ochenta años se apoderaron de nuestro territorio, y estuvimos más de diez años
gobernados por los portugueses primero y por los brasileños después, hasta que
unos orientales valientes y patriotas se dispusieron á liberar á la patria ó
morir en la lucha. (…). Alcides - ¡Ah, mamá, qué alegría siento cuando me cuentas algo de esos
orientales tan valientes y patriotas, que supieron luchar y sacrificarse por la
patria; sabes lo que desearía? La Madre- ¿Qué desearías, hijo mío? Alcides - Desearía que viniesen los brasileros á
hacerse dueños otra vez de nuestro suelo, para que todos los orientales nos
uniésemos y les probásemos que somos tan valientes como aquellos que los
arrojaron entonces. La Madre- Ni por broma digas semejante cosa, hijo mío. La libertad es
un dón tan precioso, que ni por un momento debemos pensar en perderla. Los
buenos patriotas deben sacrificarse por su patria cuando la ven en peligro;
pero no deben desear que llegue ese momento por la ambición de hacerse
célebres. Los orientales de hoy no tienen la alta y difícil misión de liberar á
la patria; pero tienen otra no menos noble y grande: la de conservar esa
libertad, la de hacerla feliz. (Catalá
de Princivalle, 1908a:131-133) O gesto revanchista do filho é
imediatamente desaprovado. Aqui, neste texto, “Liberdade” e “Independência” vão
unidas. Acreditamos que esta liberdade não se refere somente à independência do
Uruguai em relação a Portugal (e depois ao Brasil). Se “Los orientales de hoy no tienen la alta y difícil misión de liberar
á la patria; pero tienen otra no menos noble y grande: la de conservar esa
libertad...” (Emma Catalá de
Princivalle (1908a:133), conservar essa liberdade implicará não meramente uma
defesa da independência, mas também, justamente, a defesa da liberdade
“inerente” àquela também livre união de cidadãos. A heroicidade do passado
eufemiza-se, em troca de dar a passagem que unirá “independência” com uma
pacífica “liberdade”, gerando uma ambígua dupla acepção desta última. Próxima a esta lição, no imaginário percurso
de pais e filhos pelos mitos e representações da nação que nos propõe Emma
Catalá de Princivalle (1908a), chegamos, na a uma Praça: Na lição intitulada “¿Por qué se llama Plaza de la Constitución?”,
estabelece-se o seguinte diálogo: Rosaura- Dime, mamá, es cierto que esta plaza no se llama Matriz como
le dice todo el mundo, sino Plaza de la Constitución? La Madre- Se le dice plaza Matriz porque en ella está la Catedral; pero
su verdadero nombre es plaza de la Constitución. Quieren saber por qué tiene
ese nombre? Ofelia- He oído decir que en ella se juró la Constitución; pero no
entiendo lo que significa. La Madre- Significa que en ella se reunieron los orientales el 18 de
julio de 1830, para jurar que cumplirían y harían cumplir en todo el tiempo la
Constitución de la República, que una asamblea de ciudadanos nombrada por los
mismos orientales a cababa de discutir y sancionar. (…) Rosaura - ¿Qué es la Constitución, mamá? La Madre- La Constitución es un libro en el que están consignados todos
los derechos que tienen los orientales como miembros de la asociación política
que se llama República Oriental del Uruguay. La Constitución establece la forma
de gobierno, los derechos de los ciudadanos, las atribuciones y deberes de los
gobernantes, á quienes manda defender la vida, los intereses y la libertad de
todos los habitantes del país; la Constitución encierra, en fin, las leyes
fundamentales de nuestra organización política: es el libro sagrado cuyos
mandatos estamos todos obligados á respetar y cumplir fielmente, como lo
juraron nuestros padres en aquel memorable día, reunidos en esta plaza cuyo
hermoso nombre nos recuerda aquel memorable acontecimiento. (Emma
Catalá de Princivalle, 1908a:147-148) A Constituição, esse “...libro sagrado cuyos
mandatos estamos todos obligados á respetar y cumplir fielmente” (Emma Catalá
de Princivalle, 1908a:148), alude também à sacramentalidade do momento mítico
da fundação da nação uruguaia. Estamos obrigados a respeitar os mandatos
deste livro sagrado, seguindo o juramento de “...nuestros padres en aquel
memorable día, reunidos en esta plaza...” (Emma
Catalá de Princivalle, 1908a:148). No día 18 de julho de 1830, ...se reunieron los orientales (...), para
jurar que cumplirían y harían cumplir en todo el tiempo la Constitución de la
República, que una asamblea de ciudadanos nombrada por los mismos orientales
acababa de discutir y sancionar. (Id.Ibid.). Assim, um dos mitos centrais, fundantes da
nação, inaugura-se através de uma assembléia de cidadãos - eleitos por sua vez
por outros cidadãos - onde se jura fidelidade aos mandatos de um livro sagrado:
a Constituição da República. Sem menção à tutela de nenhuma
divindade, o caráter sagrado deste ato e
deste livro conformam, sem dúvida, um dos mitos centrais da nação laica,
que exige a reiteração das categorias recebidas - sua mito-práxis - por parte
dos cidadãos orientais “de hoje”, cumprindo a atualização do juramento
realizado pelos cidadãos “de ontem”. E este acontecimento extremamente
relevante da religião civil uruguaia não só possui aspirações substitutórias
por enunciar o sagrado sem mencionar o catolicismo, religião de Estado até
1917, senão que a própria cena, que serve como referente a esta lição, ilustra
estas aspirações substitutórias. A “Plaza Constitución” - que esta lição
apresenta ao escolar - era conhecida “por todo mundo” como “Plaza Matriz”. Ela recebe este nome por
encontrar-se frente à Igreja Matriz (templo conhecido como A Catedral, e
principal Igreja Católica de Montevidéu), mas o “verdadeiro” nome da Praça
mencionado nesta lição, refere-se a um acontecimento sagrado (embora não
católico): o juramento da Constituição. Esta coexistência de nomes (“Matriz” e
“Constitución”), e esta “enunciação” do “verdadeiro” nome da Praça
(Constitución) por parte do texto abordado, mostra às claras as intenções
substitutórias da religião civil, embora só seja na coexistência das
nominações. Convém acrescentar que a lição centra-se num palco que ainda em nossos dias
poderia ser observado. A Praça em frente à Igreja Matriz, estabelecida no mesmo
ponto onde a coloca a lição, levou melhor destino nas lutas de classificações
(que inclui luta de nominações) do que – a título de exemplo - a Semana Santa,
inevitavelmente conhecida no Uruguai como “Semana de Turismo”. Mantém-se para a Praça o nome de “Matriz” em
honra à Igreja principal. Também se conserva no centro da tal Praça uma
suntuosa fonte, do final do século XIX, dedicada aos Constituintes. Esta fonte
já se encontrava ali na época da edição deste livro (1908b), embora não seja
mencionada nesta lição. Provavelmente a ausência de menção deva-se ao
fato desta fonte estar carregada de símbolos maçons (frente à Igreja Matriz e
no meio da Praça Matriz) e, dada sua peculiar colocação, represente
possivelmente um dos tantos momentos de luta entre maçons e católicos depois de
seu rompimento ocorrido, segundo Methol Ferré (1969:39) , em 1856. Além desta quase provocação, a rua que
atualmente passa por trás da Igreja Matriz chama-se “33 Orientales”. É curioso
que nas proximidades de várias igrejas do Uruguai apareçam ruas com o mesmo
nome: “33 Orientales”. Embora faça alusão aos lutadores da guerra independentista de 25 de agosto de
1825, também cabe recordar que na maçonaria, a máxima hierarquia recebe o
número 33[4]. Mas vamos retornar novamente ao texto citado
(Emma Catalá de Princivalle, 1908a:147-148). Ali
vemos que La Constitución es un libro en el que están consignados todos los
derechos que tienen los orientales como miembros de la asociación política que
se llama República Oriental del Uruguay (...) establece la forma de gobierno,
los derechos de los ciudadanos, las atribuciones y deberes de los gobernantes,
á quienes manda defender la vida, los intereses y la libertad de todos los
habitantes del país. (Emma Catalá de Princivalle, 1908a:
148). A Constituição garante os direitos de
governantes e cidadãos na associação política chamada República Oriental del
Uruguay. A partir desta garantia - e sob seu manto - só basta esperar então “ a
glória do porvir”. Não debalde são comuns, nos textos de leitura
abordados, as alocuções sobre o progresso. Garantir a educação a todos os
cidadãos, estabelecer a igualdade como princípio inato à associação dos
cidadãos, arvorar a lei produzida por governantes eleitos, conformam
representações várias da religião civil da nação. E o progresso, afinal de
contas, verificabilidade empírica desta mito-práxis, surge como resultado da
própria legitimidade da religião civil[5]. A título de exemplo, citemos duas lições que
fazem referência ao progresso em Vásquez Acevedo (1888) e em Emma Catalá de
Princivalle (1908b). No livro terceiro de Vásquez Acevedo (1888),
encontramos a lição 79 (1888:236) cujo título é “La gloria del progreso”. . La gloria del progreso. No basta á un pueblo libre La corona ceñirse de valiente: No importa, nó, que cuente Orgulloso mil páginas de gloria, Ni que la lira del poeta vibre Sus hechos pregonando y sus victoria; Cuando sobre sus lauros se adormece Y al progreso no mira, E insensible á los bienes que le ofrece De sabio el nombre á merecer no aspira. (Vásquez Acevedo 1888:236) Este verso, desanima por insuficiente
qualquer épica de um povo que não se aproxime dos triunfos do progresso. Os
orgulhos, a glória, a epopéia “do valente” não bastam por si mesmas se o
progresso não é incorporado. A “Glória do Progresso” parece suprir outras
glórias mais ligadas ao terreno de épicas guerreiras: “No basta á un pueblo libre/ la
corona ceñirse de valiente:/ No importa, nó, que cuente/ Orgulloso mil
páginas de gloria ...” (Id.Ibid.). Se o progresso é olhado nesta lição como uma
glória maior em função das vantagens que ele oferece, para a lição 22, presente
no livro sexto para a quinta série de
Emma Catalá de Princivalle (1908b:198-200), denominada “El Progreso”, as preocupações
irão em outro sentido: El Progreso. Salve ¡ oh progreso! que el mundo aclama Como la gloria del porvenir, Sueño hoy hermoso, verdad mañana, Que yo en mi patria veré lucir. (…) A un solo precio yo te deseo, Al que te quiere la humanidad; Con él tu gloria perenne veo: Es que no olvides la libertad. Sin que sean libres los pueblos, nada Valen los pasos que
quieras dar; Crees que adelantas en la jornada, Y retrocedes de tu
lugar!… Sin la justicia, sin el derecho, La buena causa vienes á herir; Con la materia sola ó el hecho, No traes el verbo que ha de vivir. (…) En las ideas es que quisiera Tus puros rayos ver esparcir; Esa es la obra que ha tiempo espera, Ese es el campo de combatir (…) ¡Salve! ¡oh progreso! que el mundo aclama Como la gloria del porvenir, Sueño hoy hermoso, verdad mañana, Que yo en mi patria veré lucir. (Emma Catalá de Princivalle ,1908b:198-200). Aqui, várias dimensões da religião civil
(liberdade, justiça, direito), manifestam-se para se contrapor ao
“materialista” progresso. Retomando aqui Bellah (1975) convem lembrar
que a religião civil consiste também no olhar sobre a experiência histórica de
uma cultura dada, “...a través de la cual éste intepreta su experiencia
histórica a la luz de una realidad trascendente.” (Bellah,1975: 3). Aqui, neste texto, no entanto, a experiência
histórica apresenta-se como processo em constituição: Salve! oh progreso! que el mundo aclama Como la gloria del porvenir, Sueño hoy hermoso, verdad mañana, Que yo en mi patria veré lucir. (Catalá de Princivalle, 1908b:198). Sem dúvida que a religião civil - seus mitos
e representações - estão imbuídas de “progressismo”. Progresso que enuncia - e
neste tópico, é similar a qualquer fala mística - através de um conjunto de
rupturas e novas conexões (Serres, 1977). Ruptura no que tange a um passado a
ser substituído - para o caso, por exemplo, da religião civil elaborada no
Uruguai - e novas conexões que se manifestam em mitos e representações que,
enquanto substitutivas de peculiaridades, devem ser incluintes e representantes de uma totalidade. Se a mito-práxis, ao mesmo tempo que
fundante, exige o exercício de atualização dos mitos e a interpelação
transformadora da realidade em função dessa atualização, nesta lição inclusive,
o progresso material, esse acontecimento, deve concatenar-se, unir-se, à
justiça, ao direito, à liberdade:
A un solo precio yo te deseo, Al que te quiere la humanidad; Con él tu gloria perenne veo: Es que no olvides la libertad. (...) Sin la justicia, sin el derecho, La buena causa vienes á herir; Con la materia sola ó el hecho No traes el verbo que ha de vivir. (Emma Catalá de Princivalle, 1908b:199). A religião civil, substitutiva, abre-se ao
progresso material, exercício bastante a-problemático na medida em que como
“progressista”, está em plenas condições de se abrir ao acontecimento. Mas, em
troca, exige - não já como um exercício de interpretação do passado a partir de
uma realidade transcendente, senão como um olhar ao futuro que esta “realidade
transcendente” expressa na menção à liberdade, à justiça, etc, zele e se
sobreponha ao material progresso que, sem elas, fica vazio de conteúdo. E mais ainda: o terreno privilegiado do
progresso deve ser aquele das idéias. En las ideas es que quisiera Tus puros rayos ver esparcir Esa es la obra que ha tiempo
espera, Ese es el campo de combatir. (Emma Catalá de Princivalle, 1908b:199). O mito do progresso - caro à modernidade
ocidental[6] - atinge aqui uma particular versão que, no entanto,
não o separará substancialmente do progresso material. Neste texto, uma das versões do mito do
progresso um mito “aberto à história” - absorve o acontecimento (progresso
material) à condição de se ajustar a
uma estrutura categorial dada - e projetada para o futuro – expressa na realidade
transcendental (justiça, direito, liberdade), cara à religião civil. 7.3 Escudo, bandeira e Hino Nacional
Nos textos de leitura abordados, é comum a
descrição e interpretação de símbolos nacionais. Representações emblemáticas se
as houver, como bandeiras, escudos e hinos, cumprem um claro papel no jogo da
construção simbólica identitária de uma comunidade nacional: “Não é outra coisa
que se pede de um símbolo nacional: a capacidade de traduzir o sentimento
coletivo, de expressar a emoção cívica dos membros de uma comunidade nacional.”
( De Carvalho, 1990: 127). Contudo, esta capacidade de tradução e de
invenção das representações de uma comunidade nacional não acontece no vazio. Assim
como o Estado-nação procura delimitar e zelar por suas fronteiras geopolíticas,
ele também se empenha em demarcar suas fronteiras culturais, estabelecendo o
que faz e o que não faz parte de nação. Através desse processo se constrói uma
identidade nacional que procura dar uma imagem à comunidade abrangida por ela. (Oliven, 1992:15). Logo, o Estado-nação (seu “corpo de especialistas”)[7], no seu processo de demarcação de fronteiras
culturais produz e promove representações capazes de tornar-se emblemáticas.
Como sabemos, as representações emblemáticas (Bourdieu,1998; Maciel,1996) são
produto de lutas, negociações e re-negociações entre agentes para promover e
produzir a identidade “legítima”. Também, essas representações não são fixas:
as próprias lutas entre os diversos agentes fazem suas transformações. O “corpo de especialistas” - produtor em
definitivo das mencionadas representações - não inaugura por si só a
mito-práxis. Embora os escudos, as bandeiras e os hinos emergentes das
revoluções repúblicas na América Latina possuam uma clara intenção fundante e
que sem dúvida, nestas nações novas “...el repertorio limitado de símbolos fue
usado con precisas intenciones de cohesión social” (Poch,1998:79)[8], a possibilidade
das mencionadas representações tornarem-se emblemáticas não se sustenta
somente por um ato de imposição do Estado e de seu corpo de produtores de
símbolos. Assim, para o caso do Brasil, apesar dos
intentos substitutórios, acabou primando o tradicional “Ta-ra-ta-ta-tchin”,
vencendo em 1890 esta composição musical de Francisco Manuel de Silva, as
composições musicais inovadoras, que a
República tentava impor e difundir como Hino Nacional (De Carvalho, 1990,127)[9]. Seguindo com o exemplo dos Hinos e considerando a
mudança destas representações, no Uruguai a primeira versão do Hino Nacional
(1833), produzida por Francisco Acuña de Figueroa, foi substituída em 1845 por
petição do próprio autor (Poch, 1998:113). Ao parecer, a versão de 1833 não se adequava
à “eternidade” que devia ter o hino de uma nação (mormente considerando as
mutáveis situações históricas). Consequentemente, a
menção que se faz na versão de 1833
“...a los “dos cetros” que los orientales supieron romper: el del “fiero
León” español y el de los derrotados brasileros en Ituzaingó.” (Poch, 1998:113) desapareceria na versão final de
1845. O caráter sagrado destas representações emblemáticas
é evidente. Produto de lutas de distintas ordens - logicamente no simbólico -
mostram-se como cristalizações da mesma nação, representações emblemáticas
(produzidas e produtoras) de uma totalidade[10]. Mesmo sendo produto de lutas, negociações e re-negociações,
transformáveis com o tempo (como o exemplo do hino uruguaio), estas
representações no seu conjunto se pretendem
mostrar como “eternas”, emanações naturais da “essência” da nação. A mito-práxis se impõe. Estes emblemas,
produtos de conjunturas históricas, intentam mostrar-se além da história na
medida em que justamente “representam” a nação, sua “essência”. Estas representações são uma
espécie de dado “ministrado” que simboliza, sem importar muito a gênese e a
constituição das mesmas. Representação da representação, as lições que
fazem referência ao escudo, à bandeira e ao hino, parecem a princípio
exercícios semiológicos de decodificação. Contudo, o fato de reconhecer que o escudo, a bandeira
e o hino possuam um código a ser decifrado - as “chaves” estão presentes em
todas as lições abordadas - não diminui em nada o seu caráter de sagrado.
Porque na sinalização “do que quer dizer” tal ou qual símbolo, encontram-se
todas as interpretações (e sobreinterpretações) da religião civil. Neste “que dizer” estão todas as virtudes da
nação que lhe são próprias; todos os
atributos da religião civil. Se, inicialmente, todos os textos que
abordaremos fazem referência ao caráter simbólico destas representações, não é
obviamente para questionar seu caráter sagrado e apontar seu caráter arbitrário
e histórico. Neste “quer dizer”, estão todas a virtudes da nação que lhe são
próprias; todos os atributos da religião civil. Estas construções míticas, com
seus rastos de atemporalidade dão, à
sua vez, os significados que os cidadãos poderão colocar em diferentes maneiras
através de sua prática. Este consenso simbólico inicial, inaugura a “base
simbólica” a partir da qual pode operar essa “sociologia situacional do
significado” (Sahlins, 1997a:17). Mas passemos agora aos textos. Na lição 66 da “Serie Graduada de libros de
lectura. Libro tercero” de Vásquez Acevedo (1888:191-194), achamos a seguinte
descrição do escudo nacional: Todos los niños conocen el escudo nacional. No habrá, de seguro, nadie
que no haya visto alguno sobre la puerta de la Comisaria, de la Junta Económica
Administrativa ó de otra oficina pública. (…) La balanza simboliza la igualdad, lo que quiere decir que los
orientales no admiten entre ellos distinciones de ninguna clase; que todos, lo
mismo el simple jornalero que el acaudalado propietario, lo mismo el hijo del
rico que el del pobre, el blanco que el hombre de color, tienen los mismos
derechos y los mismos deberes; - lo que uno puede hacer lo puede hacer el otro,
lo que le es prohibido al uno le es prohibido al otro. La balanza representa también la justicia,- lo que significa que las
leyes de la República y sus funcionarios deben ser siempre justos, esto es,
deben dar á cada uno lo que es suyo. (…) El caballo simboliza la libertad, que quiere decir el derecho de hacer
todo lo que las leyes no prohiben, -nó, como algunos piensan, el derecho de
hacer lo que nos dé la gana. La libertad significa: el derecho de dedicarse al trabajo que uno
prefiera, - de moverse de un lado á otro sin dar cuenta de nadie; - de tener un
hogar respetado por todos, por los ciudadadanos, lo mismo que por las
autoridades; - de hablar y escribir lo que uno piense, sin ofender á otros, -
de elegir sus gobernantes y de exijir á estos que gobiernen con (…) la
Constitución y las leyes. A esa libertad se refiere nuestro himno, cuando dice: ¡Libertad! ¡libertad! Orientales, Este grito á la patria salvó Que á sus bravos en fieras batallas De entusiasmo sublime inflamó. De este don sacrosanto la gloria Merecímos…tiranos temblad! Libertad en la lid clamarémos Y muriendo también libertad!” (…) Vásquez Acevedo (1888:191-194). Ligando no final da lição o escudo a uma estrofe do hino nacional, coloca-se aqui
- ainda uma vez - o igualitarismo e as liberdades públicas. Cada símbolo (balança = igualdade; balança =
justiça; cavalo = liberdade), oferece a decodificação mencionada. No “quer
dizer” ou no “representa” de cada símbolo, mostram-se as “chaves” para a
interpretação. E cada chave convoca um
sentido da religião civil: “La balanza simboliza la igualdad, lo que quiere
decir que los orientales no admiten entre ellos distinción de ninguna clase.”(Vásquez Acevedo, 1888:192). Também a balança
implica a justiça das leis e de quem as aplica, justiça baseada em considerar a
todos os cidadãos como iguais: “...lo mismo el simple jornalero que el
acaudalado propietario, lo mismo el hijo del rico que el del pobre, el blanco
que el hombre de color…” (Vásquez
Acevedo, 188:192). A liberdade, por sua parte, manifesta-se como a garantia
do cidadão de fazer aquilo que as leis não proíbem. Clara manifestação dos
percursos do indivíduo moderno, autônomo, desta construção cultural bem
indagada por Dumont (1992) e Duarte (1983); igualdade, lei e liberdade não
podem separar-se. Mas esta última, a liberdade, toma nesta lição outro
sentido. Estende-se a algumas estrofes
do hino uruguaio, e num vasto exercício de re-significação, evoca a guerreira e
bélica estrofe do hino: ¡Libertad!
¡libertad! Orientales, Este grito á la patria salvó Que á sus bravos en fieras batallas De entusiasmo sublime inflamó. De este don sacrosanto la gloria Merecímos…tiranos temblad! Libertad en la lid clamarémos Y muriendo también libertad! (Vásquez Acevedo
1888: 194). A liberdade independentista
“Que a sus bravos en fieras batallas/ De entusiasmo sublime inflamó”,
torna-se “el derecho de dedicarse al trabajo que uno prefiera, de moverse de un lado á otro sin dar cuenta
de nadie, de tener un hogar respetado por todos, por los ciudadadanos, lo mismo
que por las autoridades, de hablar y
escribir lo que uno piense, sin ofender á otros, de elegir sus gobernantes y de exijir á estos que gobiernen con
(…) la Constitución y las leyes.” (Vásquez Acevedo 1888:193-194). A fundação bélica da nação é ingressada à
fundação mais perdurável dos mitos da religião civil. A liberdade do cidadão
absorve tanto o acontecimento bélico do hino quanto a própria belicosidade à
qual faz referência (guerra independentista). Se o acontecimento e a estrutura
possuem sua intercambiabilidade e suas mútuas e recíprocas incidências - tal é
a superação do pensamento levistraussiano que propõe a mito-práxis de Sahlins
(1997a) - este é um exemplo: esta estrofe do hino, com seu sentido bélico, é
recuperada pela religião civil em conformação e transformada a partir dos próprios
mitos que vai formando e transformando. Volta a mitificar o momento mítico
fundacional da épica independentista,
integrando-o, ao mesmo tempo que - metáfora própria da fala mítica -
(Bathes, 1980; Lévi-Strauss, 1990a) - re-significa o sentido original,
concatenando e suprindo metaforicamente a liberdade independentista bélica, com
o conjunto de liberdades sagradas e consagradas pela Constituição e as leis.
Portanto, uma nova re-fundação mítica. Também Emma Catalá de Princivalle, na sua
lição 29 “El Escudo Nacional” do livro quinto para quarta série (1908a:265-69)
relata um por um os componentes do escudo nacional e propõe as “chaves” de
decodificação: ...¿Para qué habrán puesto en nuestro escudo la balanza , el cerro, el
caballo y el buey? Todo eso es simbólico, Leandro; esas figuras representan algo, tienen
su significado que te explicaré…(...) El escudo y la bandera de la patria deben
ser objetos familiares para el niño, debe tenerlos siempre presentes, debe
grabarse en su corazón y en su mente, como en el corazón y en la mente de los
buenos hijos se graba la imagen de los padres. (…) La balanza representa la igualdad. Nuestra Constitución nos hace á
todos iguales ante la ley, nos da á todos los mismos derechos. El rico como el pobre, el blanco como el hombre de color, todos estamos
regidos por las mismas leyes; lo que tiene derecho de hacer el rico, tiene
derecho de hacerlo el pobre; lo que le está prohibido al uno le está prohibido
al otro; y no se reconoce más superioridad que la de los talentos y virtudes. La balanza representa también la justicia; lo que quiere decir que los
legisladores deben hacer siempre leyes justas y que los encargados de
aplicarlas deben hacerlo siempre con la mayor equidad. El cerro representa la fuerza, esa noble aspiración de todos los
orientales á formar una nación fuerte y viril ya que no por el número ni por la
extensión territorial, á lo menos por el carácter, por la virtud, por la
instrucción, por el trabajo y, sobre todo, por la unión y fraternidad de todos
sus hijos, El caballo representa la liberta, ese don precioso que nos legaron
nuestros antepasados, y que debemos esforzarnos por conservarlo y gozar de él
sin restricciones. -¿Qué es la libertad? - La libertad es el derecho que tenemos de vivir en nuestra casa sin
que nadie nos moleste, de andar por la calle sin que nadie nos lo impida, de
trabajar en aquello que más nos convenga ó agrade, de gozar del fruto de
nuestro trabajo ó de nuestras rentas sin que nadie nos estorbe, de decir lo que
pensamos, de escribir á las personas ausentes sin que nadie se apodere de
nuestras cartas ó las abra para averiguar lo que dicen: en una palabra el
derecho de hacer todo aquello que no redunde en perjuicio de otro.” (…) - Y el buey, qué representa? El buey representa la abundancia y la riqueza: la abundancia de
trabajo, de alimento, de aire puro, de luz, que brinda nuestro país á todo el
que lo habita, no exigiéndole en cambio más que honradez y laboriosidad; y la
riqueza e industrial nacional cuya principal fuente es la inmensa cantidad de
ganado que apacientan nuestros campos.(…). (Emma Catalá de Princivalle,1908a:265-69). A simbologia é então decodificada. A balança
representa a igualdade e a justiça; o morro, a força que, através da
fraternidade, do trabalho e da união (um verdadeiro programa de progresso) vai
ultrapassar a pequenez territorial e populacional; o cavalo, a liberdade, esse
dom precioso que nos vincula com os antepassados (um acontecimento) que deve
ser atualizado por meio da preservação e o gozo de seus benefícios. Esta
liberdade, acontecimento que deve ser reiterado e melhorado, conserva
praticamente os mesmos elementos descritos por Vásquez Acevedo (1888:191-193)
na lição vista anteriormente. Na lição 12 do mesmo livro (Emma Catalá de
Princivalle, 1908:67-68), o pai conta ao filho os motivos que unem as festas
cívicas com a exibição do pavilhão nacional: El Pabellón Nacional . Arturo – Dime papá; por qué todos los días de fiesta ponen la bandera
nacional en la Jefatura, en la Junta, en el Banco, en la Comisaría? El padre – Hijo Mío, se levanta el pabellón nacional los días festivos
en los edificios públicos, porque es una manera de festejarlos. Además, en las
fiestas cívicas el pabellón nacional, irguiéndose majestuoso sobre nuestros más
importantes edificios, nos recuerda á todos los orientales los hechos
históricos que se conmemoran en ese día, y nos invita á dedicar un recuerdo de
amor y veneración á las glorias de nuestra patria. (…) ¿ Y ese sol que está en la parte superior, al lado del asta, qué
representa? El sol representa la libertad; porque así como el sol ilumina y da vida
á los pueblos conduciéndolos por el camino del progreso y de la felicidad”. (Emma Catalá de Princivalle, 1908a:67-68). Na lição anterior do mesmo livro
(Emma Catalá de Princivalle, 1908a: 265-269), fazia-se referência à relação que
deve existir entre a criança, o escudo e a bandeira: El escudo y la bandera de la patria deben ser objetos familiares para
el niño, debe tenerlos siempre presentes, debe grabarse en su corazón y en su
mente, como en el corazón y en la mente de los buenos hijos se graba la imagen
de los padres. (Emma Catalá de Princivalle,1908a:266); Aqui se ilustra o caráter afetivo das “festas
cívicas”: “Además, en
las fiestas cívicas el pabellón nacional, irguiéndose majestuoso sobre nuestros
más importantes edificios, nos recuerda á todos los orientales los hechos
históricos que se conmemoran en ese día, y nos invita á dedicar un recuerdo de
amor y veneración á las glorias de nuestra patria. (Emma
Catalá de Princivalle, 1908a: 67). Mas novamente os fatos históricos iluminam-se
de uma maneira peculiar: o convite a “…dedicar un recuerdo de amor y veneración á las
glorias de nuestra patria (...)” vem acompanhado com a explicação do significado do sol: -¿ Y ese sol que está en la parte superior, al lado del asta, qué
representa?El sol representa la libertad; porque así como el sol ilumina y da
vida á los pueblos conduciéndolos por el camino del progreso y de la felicidad.
(Emma
Catalá de Princivalle, 1908a:68). Também aqui aglutinam-se as glórias passadas
da pátria com a liberdade ligada ao progresso e à felicidade. Desta forma, a
religião civil em processo de formação não nega o passado, mas incorpora - e
transforma - a historicidade herdada aos caminhos por ela apontados de
“progresso” e “felicidade”. 7.4 O apogeu da religião civil
As “Lecturas Literarias” de Gerardo Olivet
(1922) possuem particular importância. Embora se trate de textos de leitura e
composição para os últimos anos da escola primária, sua difusão foi
extremamente ampla entre professores e alunos, de acordo com a informação que
nos foi fornecida no Museu Pedagógico do Uruguai. Por outra parte, contou - como todos os
livros até aqui mencionados - com a aprovação do máximo órgão de Estado da educação
escolar, o “Consejo Nacional de Instrucción Primária y Normal”, o que indica
que este concordava com o conteúdo das lições. Já ultrapassada - por triunfadora - as lutas
contra a Igreja Católica, a religião civil manifesta-se em todo seu desenfreamento.
Neste livro de Olivet encontramos textos de criadores e seguidores da reforma
escolar (Agustin Vedia, Martin Arregui, Abel J. Pérez) e igualmente, de
escritores que, em geral, apoiavam o caráter cosmopolita da religião civil e
suas devoções democráticas. Deste modo, se a nação fora da democracia não é
pensável para a religião civil uruguaia - de forma tal que hoje em dia só se
reconhecem os períodos históricos não
democráticos como um “acidente” fora
da “natureza” da nação uruguaia
- também a mencionada religião civil se abre “para o
mundo”. O cosmopolitismo da religião civil uruguaia -
além de surgir da necessidade de aceitar fortes contingentes de imigrantes -
considerou que todos os habitantes do planeta eram (ou deveriam ser) cidadãos.
Esta pretensão levou a questionar toda possibilidade da “exclusividade” entre
nação uruguaia e democracia, sem deixar por isso de estabelecer a naturalização
entre “nação” e o construto “Uruguai” (e de utilizar esta naturalização,
enquanto representação emblemática, para se diferenciar vantajosa e
orgulhosamente de países “atrasados”
que não contavam com os direitos concebidos como básicos). Desta forma, frente à universalidade do
cidadão, que implicava igualmente a confiança em outras conformações míticas
universais coexistentes sincronicamente, como a da “ciência” ou a do “gênio”
sem fronteiras, as exacerbações nacionalistas foram fortemente questionadas.
Também, claro está, este cosmopolitismo foi exibido com orgulho nacional (outra
representação emblemática). 7.5
Educação, escola e democracia
No mencionado livro de Olivet (Olivet,
1922:151-153), citam-se alguns trechos de um discurso dado pelo reformista
Martin Arregui: Fragmentos de un discurso. Por lo demás, que la cuestión de la enseñanza pública, o de la
instrucción primaria, es un negocio del Estado (…) y si se comprueba que hay un
interés positivo social en que en la tierna edad reciban educación competente
todos los que han de ser un día miembros que se desenvuelvan su actividad
dentro de esa sociedad misma, no puede caber duda tampoco de que el Estado debe
proveer a esa educación; y cuando el padre quiera reservarse el derecho deproveeer por sí mismo a la educación de los hijos, entonces el Estado
tendrá el derecho de vigilancia, de inspección, de superintendencia Si tal es la verdad: si la educación del pueblo es el más grande de los
intereses sociales, ese grande interés social no puede ser desempeñado sino por
el Estado, que es el órgano de la sociedad; y si ese es un deber del Estado, es
un deber que no puede, que no consiente traer aparejado el exigirles a quienes
se exige que lo cumplan…. (Olivet, 1922:151-153). A educação primária, tema aqui
de Estado, é posto acima dos particularismos e dos laços filiais. O controle da
educação deve estar nas mãos dele, na medida em que representa um interesse
social que se acha por cima dos interesses e opções pessoais. A intenção de
invadir o âmbito privado se faz com o objetivo de um maior benefício: de
desenvolver as competências da criança, dever também de Estado, na medida em
que é o “órgão da sociedade”. A religião civil, ao inaugurar e promover as
liberdades do sujeito-cidadão, sua autonomização, deve, por outra parte formá-lo para estes fins. E
o Estado, sob esta ótica, é seu melhor executor. A respeito da formação deste cidadão, e do
papel da Educação neste processo Olivet remete a algumas passagens pertencentes
ao reformista Agustín de Vedia. Citamos os mais representativos: La Educación (…) La República no se constituye sin ciudadanos. Estos no se forman sin
educación, sin aptitudes, sin inteligencia. ¿De qué sirven las declaraciones pomposas de derechos que consigan
nuestras leyes, si no hay en los ciudadanos aptitud para conocer y ejercitar su
derecho?…No tener conciencia del derecho, y carecer de él, son dos cosas
idénticas. La ignorancia que es el envilecimiento del espíritu, no es sino el
pedestal de la tiranía. La democracia es el Gobierno del pueblo por el pueblo; pero, ¡qué ha de
salir del seno de un pueblo que carece de aptitudes y de idoneidad para el
Gobierno propio? Si vive en la ignorancia y en el atraso, podrá ser libre por su
Constitución escrita; pero será en realidad esclavo por su mísera condición
social. Los derechos no son más que simples teorías cuando la educación no los
ha grabado en el alma del ciudadano. La cuestión de la educación del pueblo, es la gran cuestión de la
democracia – la escuela es el fundamento de la República. (…) Bajo cualquier aspecto que se considere la cuestión de la educación,
-social, política o económicamente- ella tiende a fundar la vida, la
independencia y la grandeza de las naciones. Fuera de ella, no vemos sino perpetuación del coloniaje (…), la miseria
o el despotismo… Resolver la cuestión de la educación pública, es resolver todas las
cuestiones. (Olivet,1922:153-155). Pouco resta a indagar num texto tão claro. A educação garante a produção de cidadãos, na
medida em que saneia a separação entre
a formalidade dos direitos e sua existência concreta: “Los derechos no son más
que simples teorías cuando la educación no los ha grabado en el alma del
ciudadano.” (Olivet,1922:154). A democracia só é garantida a partir da
educação outorgada a todos. A nação - fundida aqui na República e na Democracia
- depende, para sua grandeza, da educação para todos. Além
dela, acha-se o caos: “Fuera de ella, no vemos sino perpetuación del coloniaje
(…), la miseria o el despotismo…” (Olivet,1922:155). Mencionando aqui outro reformista vareliano -
Abel J. Pérez - Olivet, nos dá uma
lição acerca da mito-práxis: “Sobre la base, para nosotros indispensable de que la mejor forma de
gobierno es la democracia y de que es ella la forma que nos rige y que seguirá
rigiéndonos en los sucesivo, como la expresión más alta de las aspiraciones
humanas, debemos tratar de estudiar cual es el medio mejor de asegurar su
estabilidad y su perfeccionamiento. Siendo la democracia el gobierno de todos y para todos, debemos adoptar
como criterio concordante en lo que a la escuela primaria se refiere, que es
ésta necesariamente la cuna de ese régimen de gobierno, en la que se prepara
únicamente su triunfo, y sólo ella, pues es en sus aulas donde se desarrollan
los elementos eficientes(…).” (Olivet 1922,158-160). A escola, berço da democracia, afirma a
“indispensabilidade” da democracia que nos rege e continuará a nos reger.
Destino democrático quase inevitável, na medida em que mostra “la expresión más
alta de las aspiraciones humanas” (Olivet,1922:158). Dentre os mecanismos
para garantir “su estabilidad y su perfeccionamiento” (Id. Ibid.), a escola,
produtora de cidadãos, ganha um papel fundamental. Portanto, a religião civil envolve-se sobre
si mesma. Religião civil da nação laica já não esboça enfrentamentos. A luta
está vencida, a democracia foi, é e será uruguaia (embora sem esquecer o
cosmopolitismo). As fidelidades secundárias - reduzidas ao cultivo privado de
cada cidadão - poderão eventualmente coexistir com esta grande crença
democrática, mais ampla, pública e constitutiva do próprio projeto de nação. 7.6. Cosmopolitismo e nação.
Continuando com o texto de leitura de Olivet
(1922), chegamos agora ao cosmopolitismo da religião civil uruguaia. De acordo
com os historiadores Barrán e Nahum (1985), dentro do jacobinismo reformista
(estamos referindo-nos agora ao reformismo batllista), foi uma permanente luta
contra todo tipo de nacionalismo estreito (Barrán e Nahum, 1985:47,48). Na
medida em que este reformismo “do alto” (Caetano e Geymonat, 1997) foi um dos
grandes fazedores da religião civil, vale a pena citar aqui um diálogo entre o
batllista Domingo Arena e um oponente político do momento. A discussão levada a cabo na Câmara de
Representantes (deputados) era em torno da pena de morte e a proposta de sua
abolição (proposta finalmente triunfadora). O ponto crucial era a aplicação da pena de
morte em tempos de guerra. Vamos reproduzir em parte o diálogo citado
por Barrán e Nahum (1985:49) que tivera
lugar na Câmara em 26 de junho de 1906: Sr Arena...si
dejamos establecido que la pena de muerte puede aplicarse en tiempo de guerra,
es sencillamente dar carta blanca a los jefes de división, a los jefes del
ejército para que puedan hacer verdaderas atrocidades(...) Sr. Lacoste. Ponga el ejemplo de un sólo ejército que no fusile a los
espías. Sr. Arena. Será porque esos ejércitos no están bastante adelantados;
pues el señor diputado no podrá negar que es una crueldad fusilar a un espía,
desde que la mayor parte de las veces un espía es un patriota(...) del país
enemigo y en vez de fusilarlo, habría que rodearlo de las mayores consideraciones
posibles. (Barrán e Nahum,1985: 49). Esta citação é bastante ilustrativa do
cosmopolitismo que se achava presente na religião civil da nação laica. Considerando o mencionado diálogo, não é de
se admirar por conseguinte que. enquanto nos textos de leitura encontramos
vinculada a nação, a pátria, o país, com a livre associação de cidadãos, a
democracia, a lei e a liberdade, também estejam presentes, como no caso deste
texto citado por Olivet, críticas ao Patriotismo e à Pátria, sempre que estas construções
se achem isentas dos referidos nexos. Na lição titulada “Patriotismo”,
lê-se um texto citado de um autor chamado Rafael Barret: Patriotismo. La idea de Patria ha perdido mucho de su virulencia. Los Dioses, hace tiempo, se inclinaron por le cosmopolitismo. Jesús fue
mal hebreo. Se entendía con los gentiles, y hablaba de paz. Aseguraba que no
era necesario ser judío para salvarse. La divinidad obraba así en defensa
propia. (…) La especie humana frente al universo físico: he aquí el cuadro. La ciencia
es indispensable. Todos somos consagrados para el porvenir. ¿Pero qué es una ciencia nacional? Una mentira. ¿Conocéis la química francesa, la astronomía alemana? La química y la astronomía nos pertenecen a todos: han sido creadas por
la humanidad, y para la humanidad. Si la ciencia no es una, no es ciencia. En esto se asemeja al amor. (…) No: la ciencia se encargará de aniquilar al odio. Concluirá con el
patriotismo porque los específico del patriotismo es el odio. Un patriotismo que no odia al extranjero no es patriotismo, es caridad.
Y una caridad que se detiene en las fronteras no es más que odio. Amad vuestra tierra, y también la ajena. Amad vuestros hijos y también
los ajenos (…) Pero si no amáis sino lo vuestro, no amáis, odiáis! Y mientras
odiéis estaréis privados de la ciencia, y frente a la realidad sombría no
seréis más que miserables fantasmas. (Olivet,
1922:267-269). O patriotismo corresponde a uma instância
atrasada. Se, nesta lição, pondera-se mais o universalismo da ciência do que o da
democracia, o argumento é o mesmo: a ciência pertence à humanidade, assim como
humanos somos (ou seremos) cidadãos. Cidadãos, pois, do mundo. Na última lição que veremos, intitulada “Mi
Patria”, os rastos levemente socialistas fincam-se no universalismo da figura
do “gênio”: Mi Patria -¿Cuál es tu patria? – me pregunta Eneas, temiendo que mi noble socialismo lastime o mortifique las ideas del que, con ira injusta, cree inclemente, que en la misma vivienda por morada, al vecino de al lado y al de enfrente debe hacer siempre guerra despiadada. Yo miro, caro Eneas, a la tierra como patria total de corazones: como casa común en que se encierra tanto aposento ideal como naciones. El genial Víctor Hugo nació en Francia; Llevó a la altura al pensamiento humano; prestó a todos los seres la fragancia de una florida comunión de hermanos. Nació un Shakespeare inmenso en Inglaterra y el mundo entero lo levanta en palmas, porque enseñó a los hombres cuanto encierra el misterio sublime de las almas. (…) Pide el siervo que no quede ni rastro de la odiosa y venal oligarquía, y en Rusia surge Gorki como un astro que deslumbra a la estéril tiranía, (...) -¿Cuál es mi patria? Por diverso modo según la magnitud del pensamiento, tienen unos por patria el mundo todo, y otros tienen por patria su aposento. Pero es tan honda la emoción que brota aquí, en mi corazón enternecido, que es mi orgullo decir: Soy compatriota de cuantos grandes genios han nacido. (Olivet, 1922:270-271). Se Shakespeare e Vítor Hugo pertencem à
humanidade, “Por diverso modo / según la magnitud del pensamiento,tienen unos
por patria el mundo todo / y otros tienen por patria su aposento.” (Olivet, 1922:271), a estreiteza de olhar vincula-se
com a ampliação ou diminuição da concepção da pátria. A comunhão com os
“gênios” só torna-se possível ao abandonar o apego provinciano à terra natal. Assim, a religião civil aproxima-se da
formulação - pelo menos expositivamente - de questionar a última fidelidade: a
de integrar ou pertencer a uma nação per se. O espelho onde devem se mirar os cidadãos há
de ser o da humanidade. Também corresponde destacar o reverso deste
olhar: o fato de se postular (entanto que democracia) como ideal bem sucedido
das máximas aspirações da humanidade, alimenta também o tomar este cosmopolitismo
como representação emblemática de uma nação “civilizada”, aberta, onde se
tentam dissolver as particularidades em troca de uma produção de universais,
que se imbricam, de todas maneiras, em um projeto de nação específico e
particular.
[1] Esta
afirmação corresponde a Bralich nos ’90 ( Bralich, 1990:33). Na revisão que fizemos na Biblioteca Nacional do Uruguai, encontramos livros de leitura realizados por Roberto Abadie Soriano e Humberto Zarrilli até meados dos ’70. Os livros revisados, têm títulos diferentes e variações de conteúdo dos aqui mencionados, ou trata-se de produções novas. Lembremos que da série de livros de leitura para as escolas públicas por Abadie Soriano e Humberto Zarrilli preponderantes nos ’20 e ’30 foram: o livro primeiro de leitura “Alegría” (primeira edição realizada pelo Consejo Nacional de Enseñanza Primaria y Normal em 1927); o livro segundo de leitura “Tierra Nuestra” (editada como obra premiada pelo mencionado Conselho e editada em 1931); e o terceiro livro de leitura “Uruguay” (1932). Da série trabalhada, temos encontrado várias reedições dos ’40 aos ’50.
[3] Este “cosmopolitismo” se expressará
na religião civil uruguaia
“...revalorizando el concepto de humanidad y tendiendo a considerar al
nacionalismo como un prejuicio burgués...”(Barrán e Nahum, 1986:165). Ao indagar o peculiar nacionalismo
que convivia com o espírito cosmopolita no Uruguai afirmará Barrán: “Este
particular nacionalismo fue el que alimentó la gran ley uruguaya de feriados de
1919 que entre los 18 feriados establecidos incluía el 2 de mayo, “día de
España”, es decir de la España revolucionaria y liberal(...), el 14 de julio,
“día de la Humanidad”, el 20 de setiembre,”día de Italia”, y como añadía “El
Día”, en que se conmemoraba la “extinción de las hogueras” papistas en que
había ardido la “libertad de pensamiento”, y el 4 de julio, “Día de la
Democracia”. (Barrán,
1998a:15).
[4] Lembremos novamente os “Banquetes
da Promiscuidade”, realizados já dentro de uma esfera muito mais ampla que o
conflito maçônico-católico. A princípio do século XX - em pleno jacobinismo
batllista - organizavam-se os “Banquetes da Promiscuidade”, frente à Igreja
Matriz. Segundo Néstor Da Costa
“Tratava-se de festas organizadas nas sextas-feiras da Semana Santa
diante da Catedral cuyo objetivo era reunir-se para comer o tradicional
churrasco, o seja comer carne, como forma de satirizar o tradicional jejum
católico dessa data.” (Da Costa, 1997: 94-95).
[5] No meio das críticas gerais à idéia
de progresso, enquanto meta-relato (Lyotard, 1979), como resultado patológico (
e também lógico) do projeto iluminista (Pareja e Pérez, 1987), não deixa de
chamar a atenção o fato da primeira força política do Uruguai contemporâneo
denominar-se “Encuentro Progresista”.
Evidentemente as mito-práxis atuais no
Uruguai, embora discursivamente não possam fazer abstração do “Uruguay
Batllista”, também não parecem elaborar reformulações de base, que
problematizem os mitos da nação herdados. Sem pretender aprofundar neste ponto,
as representações que acompanham a concepção de progresso da mencionada força
política, não diferem em muito da “mano batllista” que modelou fortemente o
Uruguai. Tal é a capacidade de duração de mitos e representações. Sobre críticas ao programa iluminista e à concepção de progresso que traz consigo, ver: Lyotard (1979); Pareja e Pérez (1987).
[6] Concordando com Pareja e Pérez (1987), as implicações do mito do progresso - imbricado nas várias versões do projeto iluminista que se atualiza hoje em dia - postularia que: “...una vez desembarazada de (..) interferencias espúreas o trabas que limitan el impulso que la motoriza, la racionalidad social fluye por sí sola, en virtud de su propia teleología, hacia los óptimos correspondientes a cada nivel o etapa de desarrollo.” (Pareja e Pérez, 1987:17).
[7] “Os “sistemas simbólicos”
distinguem-se fundamentalmente conforme sejam produzidos e, ao mesmo tempo,
apropriados pelo conjunto do grupo ou, pelo contrário, produzidos por um corpo
de especialistas...”(Bourdieu, 1998:12). Estes “...especialistas da produção
simbólica (productores a tempo inteiro) (Boudieu,1998:12), são profissionais
(em geral, de maneira não consciente) no “...fazer ver e fazer crer, de
confirmar o de transformar a visão do mundo,e, deste modo, a ação sobre o
mundo...” (Bourdieu, 1998:14).
[8] Marcel Mauss, comparando a nação com modalidades “mais primitivas”, atenderá essa simbologia coesiva: “Elle est homogène comme un clan primitif et supposée composée de citoyens égaux. Elle se symbolise par son drapeau, como lui avait son totem; elle a son culte, la Patrie, comme lui avait celui des ancêstres animaux-dieux. Comme une tribu primitive elle a son dialecte élevé à la dignité d’une langue, elle a un droit intérieur opposé au droit international.” (Mauss,1969: 593-594). Sobre os limites deste tipo de comparações, ver: Oliven (1992).
[9] “Não havia como tentar mudar o
velho hino sem incorrer em grande desagrado e possível resistência popular. A
República ganhou cedendo lugar à tradição. Ao hino de Francisco Manuel foi dada
a letra de Osório Duque Estrada, pois a letra original já estava em desuso
mesmo durante a Monarquia.” ( De Carvalho, 1990:127).
[10]
Referindo-se ao caráter sagrado destas representações, Oliven sustenta: “Durkheim dá o exemplo do
soldado que cai defendendo sua bandeira, e afirma que o mesmo certamente não
crê ter-se sacrificado por um pedaço de pano. De fato, sabemos que o soldado
que morre em batalha acredita estar dando a vida por seu país, que é
simbolizado pela bandeira, um emblema que acaba se tornando mais sagrado que a
realidades que representa. (Oliven, 1992:14). |